Lembra da sensação, numa noite quente, em que se tentava dormir e um pernilongo passou rasante zunindo perto de nossos ouvidos?Pois é assim que acontece quando ouço certas palavras. Casamento, aparência social, falsidade, trabalho, chefe, separação, morte, hora-marcada, telemarketing, imposto, maturidade e, um ultimo exemplo e também instância máxima no assunto, responsabilidade.
Aliás, tem horas que me pergunto: que raios é essa responsabilidade tanto falada por ai?
-Olhe o seu tamanho, deveria ter mais responsabilidade – diz minha mãe.
-Você já é um adulto, tem responsabilidades a arcar!(Leia: impostos, família, pagar pensão, presentes, evacuar a casa dos seus pais, passar no vestibular... tudo de acordo com a pessoa que te diz isso,que aliás,jura que é para que você seja feliz!)
Bem, acho que nos ensinaram que esta palavra é a síntese do tudo aquilo que pode significar: você tem de arcar com as suas escolhas (embora não digam que nem sempre quem faz as escolhas do que se quer seja você mesmo). Mas, na verdade, eu mais sinto isso como se, em toda vez que me dirigem essa dita palavrinha, estivesse amordaçado e acorrentado numa cadeira de uma salinha de interrogatório da nossa polícia brasileira. Lá, um homem truculento – aparentemente capaz de usar de três a quatro palavras por minuto (afinal, não precisa falar muito,pois a quinta palavra, bem, acredite: seus ouvidos não estarão na sua cabeça, talvez nem ela esteja no corpo ainda, para que ouça a 5° palavra) – aponta um taco de basebol na sua cara, que na mão dele mais parece o palito de dente usado no almoço, e grita:
- RESPONSABILIDADE!Entendeu? Precisa repetir!?
-...
(Quatro palavras, ufa!)
Há dias em que me sinto traumatizado. Até parece que fui jogado, como um bêbado, de um camburão numa vala qualquer da cidade. Sinceramente, não penso que seja tão necessário acatar a tamanho terror cruzadista, prefiro a multiplicidade ao invés da rigidez imposta pela responsabilidade.
Tem dias para ser criança, se lambuzar com um bom sorvete de casquinha, descer barranco rolando, bater figurinha, dizer que gosta do namorado(a) como se fosse o primeiríssimo amor(ou dizer para a paixão secreta que a ama como se fosse um amor de longa data), andar de bicicleta e, claro, sem medo de ralar o joelho. Há também há dias para ser velho, ter cautela para não xingar quem merece,ser pensativo,dar o ombro pra acalentar uma pessoa querida,brincar com o neto,saber dar bronca, tomar cuidado pra não cair das escadas e tomar cuidado para que não grude chiclete na dentadura!
Ou,até melhor, há tempo de sobra para sermos um senhor com espírito de jovem aventureiro!Pena que também há para sermos jovens com pele de uva-passa, ou ainda, velhos com cabeça infantil.
Penso até, com certa nostalgia, em retirar do guarda-roupa e fazer como os garotos fazem com ternos e gravatas dos adultos, só que agora ao contrário. Pegaria algumas camisetas, macacão, shorts, meias que iam até a canela da minha infância e usá-los novamente no meu dia-a-dia. Quem sabe, ir à faculdade, trabalhar...
Tudo bem, seria ridículo andar por ai. Minha camiseta lembraria um top feminino e a calça pareceria um micro shorts (será que já inventaram a nano? Aliás, será que daqui um tempo continuaremos a usar roupas? O aquecimento global está ai e o liberalismo também!). Definitivamente não pensariam que sou uma criança, nem ao menos pura e inocente!
Bem, pelo menos, valeria a risada!