domingo, 23 de maio de 2010

Homem não pode chorar

“Homem não pode chorar” foi o que me disseram quando eu tomei um tombo feio há muito tempo atrás. Desde pequeno, sempre acreditei que se fosse pra chorar mesmo, mas um choro daqueles de fazer a garganta e olhos doerem, só quando algo muito triste acontecesse! E por muito triste eu entendia mesmo quando alguém querido morresse. Inclusive, quando via nos velórios que alguém não chorava, pensava que era porque o morto não fazia diferença alguma, ficava muito bravo.

Pra mim, chorar era um remédio pra aliviar as dores, mas daqueles que você só usa quando não agüenta mais. Daí, se a gente chorasse por qualquer coisinha, era porque a gente era fraquinho e birrento, porque precisava tomar remédio sempre. Ou porque era menininha, e menininha chora até quando o mocinho da novela morre ou quando o colega rouba o lanche do recreio. Não, menininha eu nunca fui! Homem, definitivamente, não pode chorar, não, não.

Mas hoje, estou triste como nunca estive. E choro, mas de um jeito diferente.

Minhas lágrimas não estão nos meus olhos, estão no meu sorriso encharcado, na minha boca seca, nos meus sonhos desvairados naufragados.

Caro leitor, caso queira ouvi-las, não conseguirá. Minhas lágrimas correm pra dentro surdamente, é o amargo silêncio de quem não sabe o que fazer, mas tem que fazer algo. É o peito torto mal estufado, o adeus não querido, mas, momentaneamente, necessário.

Sim, definitivamente tenho que confessar: homem chora.

domingo, 16 de maio de 2010

O domingo do meu cãozinho

Não ando lá muito bem humorado nos últimos dias, mas, ainda não cheguei ao ponto de um bom-dia dado por transeunte se tornar ofensivo ou ultrajante. Já faz quatro semanas que tenho provas e isso me dá uma pressão tremenda, ainda mais quando cada prova pede centenas de páginas a serem lidas. Definitivamente, isso não me faz bem.

O domingo veio lento e ensolarado, li meu jornal como de costume e resolvi fazer algo que há muito não fazia: levar meu cachorro pra andar por aí.
É um pequeno cãozinho preto e rechonchudo, cria de um Maltês com Poodle, não deixando de ser também um legítimo vira-lata. E lá estava ele deitado, tomando um gostoso banho de Sol quando disse:

-Vamos passear?

E logo se agitou, começou a latir, ficar empinado nas patas traseiras, a olhar para a coleirinha preta dele. Latia e apontava, como se me dissesse tal qual uma criança “Agora vamos, não?”. Às vezes, suspeito que entende o que eu falo, quem tem o seu bichinho deve me entender.

A rua vazia sem muita gente, apenas uns garotos correndo de um lado pro outro, uns velhos no bar logo cedo jogando conversa fora e umas beatas indo ou voltando da missa de domingo.

O dia bonito e não muito quente não era da atenção do meu cãozinho. Não olhava a mais de dois palmos de distância, estava sempre com o nariz apontado para o chão. Todo o ânimo estava concentrado não em ver as nuvens se movendo ou coisa que o valha, mas sim em olhar as minúcias da calçada.

Enquanto o meu passeio valia para esfriar a cabeça e me distanciar do cotidiano, o meu cãozinho queria era conhecer cada detalhe deste mundo. Investigava a calçada, postes, as saias das moças religiosas e tentava descobrir se algum colega canino por ali passara e deixara alguma mensagem. É claro que fez também questão de deixar a sua na calçada, mas logo tive de limpar para que um desavisado qualquer não pisasse no sinalzinho marrom deixado por lá. Espero que meu cãozinho me entenda e me perdoe. Não sou opressor, ou censor, longe disso. Sei que ele passa a maior parte do tempo em casa e mal tem como se comunicar mundo afora e realmente se deve aproveitar chances como essa, entretanto, preso pela sola dos sapatos alheios.

Esse pequeno passeio de uns 20 minutos valeu para deixar meu pequeno vira-lata ofegante e eu pensativo. Meu cãozinho fadigado parecia muito feliz e voltou para o seu banho de sol já com a língua tão estendida quanto o seu corpinho. Fez contato com os postes e vasos do meu bairro e não precisou olhar muito longe pra se sentir bem.

Talvez seja isso que precise. Não, calma lá. Não vou deixar qualquer tipo de vestígio nos postes ou calçadas ou cheirar o que tenha passado por lá. Acho mesmo que preciso começar a deixar essas coisas de Direito, livros, estudos, intrigas, brigas políticas um pouco de lado.

Bom mesmo é rir de bobeiras, sentar pra ver o dia passando, ou sentar pra não fazer nada sozinho ou com um bom amigo. Agora, meu cãozinho continua muito bem estirado sobre o tapete da entrada da cozinha, já entra naquilo que chamam da boa preguiça dominical, penso que eu fiz valer o dia dele, e eu como fico?.Vou aproveitar as pequenas coisas da vida hoje, os livros ficarão encostados. Quem sabe, também tomar um banho de Sol? Bom domingo a todos. Aproveitem!