segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A partida

O novo olhar do dia ,

o passado preto e branco arrasado,

mas não descartável,

vira batido,

não sucata.


O sol de crista e coroa

vem bem intencionado.

Um corpo se livra das correntes,

Atira-se do abismo.


O futuro vem ao nosso encontro,

o tempo voa,

vira presente,

ultrapassa e passa passado.


Rasante em nosso peito é o instante,

mais uma pintura amassada,

novo papel de parede.


As malas meio abarrotadas

Deixam cair certos pertences na estrada.

Não vemos,não há tempo de recolher.

Não queremos,há dores a esconder.


Mas, percebemos algo:

As memórias ficam.


A casa está putrefata,

O trem está vindo,

Depressa!

A nave não cobra passagem,

Mas não garante viagem!


Não olhe para as águas fontes das marcas,

Mire o mastro que se levanta aos céus.

É a vela de um novo vento

Que a espera para retirar certas teias mal resolvidas.


Sopre firme, avante a novos reinos e nuvens.

Apenas não esqueça o motivo de sua ida:

Não chegue a novos ares sem saber quem fora,

Não jogue âncora à terra sem saber o porquê fugira.


Não pude embarcar em mesma nave.

Apenas peço que não se esqueça

Do meu lenço com passagens da nossa história.


Quando encontrá-la,

serão novas marcas,

novos rostos,

novos cheiros,

novos gostos,

novo cais.


Espero cruzar mesmo mastro

e hastear bandeira comum,

mas até lá ,

guardo com carinho

a pequena formosura

que fora essa aventura em versos.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pra ver jibóias ao invés de chapéus

Hoje é dia doze de outubro, para os religiosos, dia de Nossa Senhora Aparecida, para os nem tanto ou os menores, é dia de receber presentes, dia das crianças.

Lembro que durante a minha infância costumava receber dinheiro dos meus pais. Não tinham muito tempo pra comprar presente, também não os culpo. Meu pai trabalha de segunda à sábado das oito da manhã às oito da noite e de domingo costuma ficar boa parte do dia, mamãe também o ajuda e ainda tem os afazeres domésticos.

Não posso dizer que eles não se importam comigo, ou que não me conhecem e pouco se preocupam com o que eu realmente queria. Dinheiro não trás felicidade alguma, mas o gesto de se lembrar de mim já vale muito mais que qualquer brinquedo podia me dar.

Engraçado que mesmo com dezenove anos, já quase vinte, meu pai entrou no meu quarto, enquanto eu escrevia algum e-mail, e me deixou dinheiro.

- É pra pagar o quê? – perguntei.

-Feliz dia das crianças – foi o que me disse com um sorriso no rosto

Levantei da cadeira e dei-lhe um abraço com há tempos não dava.

-Obrigado

Desconfio que meu pai talvez não saiba ao certo a minha idade, afinal, ele mal sabe a dele, como se lembraria da minha? Talvez ele ainda pense que tenho treze ou quatorze anos, mas prefiro pensar que ele ainda enxerga em mim algo de criança, o que me deixa muito feliz.

Penso que não o simples passar do tempo não é suficiente pra dizer que passamos de fase. Com doze viramos projetos de gente grande pra então com dezoito viramos adultos? Até pode ser, mas confesso que isso não trás muitas vantagens, no mais dá pra dirigir carro, tomar umas no bar.

Aliás, nunca devíamos deixar de sermos crianças, no mais, deixar de ser infantis. É necessário conservar certos sonhos simples como poder voar ficar maravilhado com o caminhar das nuvens no céu, pegar pinguinhos de chuva com a língua, comer doce até doer o dente.

Ser criança é enxergar aquilo que os adultos negam. Aquilo que dizem que a maturidade já lhes ofuscara os olhos. Não, que engano! Ser maduro nada tem a ver com deixar de ser criança, tem sim com deixar de ser infantil.

Gosto de ser bobo, deitar e rolar na grama, derrubar os outros nela, rir de bobeiras e isso tudo sem deixar de conservar certas responsabilidades.

Ok, você pode até dizer: o que um garoto de dezenove anos sabe sobre responsabilidades? Sinceramente, pouca coisa. Mas eu sei que, sabendo mais ou menos, não deixarei de ser criança, porque assim posso ver aquilo que adultos se negam a ver, porque dizem ser muito ocupados, sem tempo, mas sem saber o porquê ou pra quê de viverem numa vida frenética. Quando conseguirão parar pra ver o sol entre as nuvens e achar isso bom?

Quero ver o céu se movendo e pintá-lo de lápis de cor, quero ir até a lua e colocar algumas estrelas no bolso. Quero nunca colocar a culpa em responsabilidades quando deixar de me divertir soprando bolinhas de sabão.Quero apenas poder sempre olhar uma jibóia que engoliu um elefante quando muitos virão apenas um chapéu.

Enfim, Feliz dia das crianças a todos ;)!