terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Carta de Ano Novo

Tenho este hábito já há algum tempo, mas desta vez prometi não dar atenção a fazer uma lista das coisas que aconteceram neste ano que, se ainda não terminou, já respira moribundo à espera dos fogos da meia-noite.
Vou pular direto às resoluções de ano novo, primeiro porque já não resta muito mais tempo para se dar ao luxo de se perder admirando ou remoendo pores-do-sol passados. Além do mais, as coisas que aconteceram, sejam boas ou ruins, estão lá empoeiradas e não podem ser mudadas.
E, mesmo que a gente perca tempo revirando antiguidades para contar uma história dos tempos idos a quem quer que seja, não se dá com isso ao ouvinte mais do que uma falsa sensação de linearidade e coerência que não havia na época em que as ações narradas se desenvolveram de fato.
A verdade é que quero evitar o olhar pra trás não apenas pele senso de pouco utilidade que isto me trás. Mas, acima de tudo, porque penso que é preciso depositar esforços nas tarefas difíceis da vida. Afinal, é necessário muito mais coragem para encarar um futuro incerto e construir onde só reina incerteza do que para empregar esforços para enfeitar o passado, ocultando os erros e dar uma ludibriosa sensação de grandeza que em nada corresponde à realidade do que acontecera de fato.
Passarei então às metas do ano que se aproxima, mas reservo-os ao crivo do segredo, peço que compreenda. É que, embora não discorde que a realização deles dependa em boa parte de mim, nunca faz mal contar um pouco com a sorte, certo? E, como dizem por aí, sair cantando aos quatro ventos os próprios objetivos faz com que a sorte suma e o azar se paroxime.
Entretanto, peço que, mesmo sem saber quais são meus planos, que torça por mim, caro leitor.
Obrigado e desejo que tenha um ótimo 2012!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Confiança

Confiança

Não se pede nas listas de natal ou se acha nas árvores da primavera.

Confiança

Não se acha por aí nas ruas por acaso, ou numa raspadinha de lotérica.
Confiança,

Com C maiúsculo,

Não se ganha, meu caro.

Se conquista.

E,

Pra tanto,

Leva tempo

(e quanto!)

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Estrondo nas Arcadas

Do prédio de três andares, descia rumo ao segundo para uma aula nada animadora. Era manhã de quinta feira, ou melhor, final de madrugada, por volta das oito horas. O sono batia forte e, não fosse o estrondo tão grande, talvez não tivesse corrido pra ver o que ocorrera.

Uma barulheira de coisas se esparramando pelo chão e então, a cena. Uma garota desconhecida de cabelos ruivos cheios debruçada sobre os degraus. Coitada!Deve ter sido um baita tombo.
Preocupado, corro em sua direção. Estendo-lhe a mão para que levantasse e digo:
-Oi, quer uma ajuda?

E como se a minha mão tivesse sido, além de um ultrajante deboche, a invisível culpada por fazê-la tropeçar na escadaria, ela bufa e esbraveja como se quisesse recompor o orgulho:

-Agora não adianta! Minha calça já rasgou!

A minha mão ficara estendida ao ar, ficou por isso mesmo, tudo bem.

Mas, o que me assusta é que talvez não tivesse percebido que eu era, assim como ela, um estudante de direito. Já me disseram que com aqueles óculos de aro grosso preto eu fico parecendo arquiteto, até estilista. Mas, costureira?

Enfim, da história duas lições. A primeira é que eu preciso trocar de óculos urgentemente. A segunda é que, se eu quiser ajudar alguém de verdade, preciso andar - além do agasalho, guarda-chuva e caixa de remédios – com um kit que tenha agulha e carretel de linha na mochila! Ou talvez fosse melhor entregar como presente à moça desastrada e inapta em desviar uma perna da outra. Quem sabe dessa vez a ajuda não seja de mais valia que uma mão nua estendida e ela me dê um "obrigado"?

quinta-feira, 28 de julho de 2011

A Solidão dos Mortos

Talvez devesse sentir mais vezes a solidão dos mortos. Ou melhor, pelo menos a que penso que eles sentiriam. Não a sensação de bater em vãos nos muros e dar gritos mudos ignorados por todos que já não tem nem tempo nem paciência para os que já se foram ou já não interessam mais. Mas a que vem da necessidade introspectiva de se voltar pra dentro e ouvir o que aquela voz tão presente e tão deixada de lado chamada Eu tem a dizer.

O que teria a dizer sobre as viagens perdidas, ou das garotas apaixonantes que perderam o encanto no instante em que se tornaram reais? Ou das vezes que fugi covardemente por ter medo de ser chamado de covarde? Ou dos elogios e carícias que aceitei fingindo ser verdadeiros prêmios quando na verdade não passavam de medalha por ter sido um bom perdedor?

Afinal é tempo de parar de se deixar viver pelas escolhas não feitas. Tempo de deixar de ser mero expectador das próprias conquistas. Tempo de se tornar protagonista do pequeno espetáculo nos dado sem contrapartida nenhuma chamado: vida.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nota social

Sobreviveu à própria vida.

Nunca arriscou,

Fingiu amar a mulher que não amava

E o cão que nunca quis.

Se contentou com o emprego medíocre,

Com o sonhar a felicidade do comercial de tevê.


Dizia ter medo de morrer,

Mas era mesmo de viver

Descobriu tarde.


Deixou filhos ingratos,

Netos que não davam carinho

E que nem questão disso faziam.

Morreu em paz no domingo.

Ou já estava morto muito antes sem saber?

sábado, 11 de junho de 2011

Dia dos namorados e outras aflições

Com o dia dos namorados se aproximando, fico observando a enorme apreensão dos namorados e namoradas que não sabem o que dar de presente. Medo de ser repetitivo, ou de não agradar, enfim, uma centena de fatores a se considerar em busca do presente perfeito. Tanta aflição me lembrou certa conversa que tive a tempos com um amigo sobre o amor, ou melhor, o conceito deste. Explico melhor.

A discordância se deu em face de uma frase de um poeta que dizia que o amor é sentimento velho, mas que nunca saíra de moda. Desta idéia, criou-se uma dúvida: Será que os poetas, filósofos e transeuntes já esgotaram todas as formas de expressar o amor de tal forma que todas as que vierem não são mais que repetição?

A minha defesa era por dizer sobre a infinitude deste sentimento, ao passo que meu amigo ia radicalmente em sentido contrário, dizendo que de uns tempos pra cá tudo é senão repetição. Não vou expor os argumentos para não cansá-los, apenas cabe constatar que gastamos algumas horas e não chegamos a lugar nenhum.

Hoje a controvérsia veio à tona, tanto pela proximidade da data como pela falta do que fazer. Ponderei um pouco e percebi então que a discussão não era assim tão importante. Afinal, não importa se esgotaram ou não até a exaustão, se acharam um conceito perfeito ou se acabaram todas as possibilidades de expressar o amor.

Se ainda resta criatividade pra expressá-los além do “I Love You”, das flores e caixas de bombom é coisa menor pra se preocupar. O simples fato de já existirem diversas formas e possibilidades de escolha já deveria servir de alívio pra quem não sabe o que dar no dia dos namorados.

Mas é claro, inventar um modo inédito é sempre bem-vindo, seja para um presente inesperado, seja para uma desculpa fantástica para os que se apresentarem de mãos vazias amanhã.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Maio já está no final...

Maio já está no final, foi o que percebi no mesmo momento em que me passava um baque de realidade por já estarmos quase no meio do ano. Em geral, não me preocupo com isso, pois falar Maio parece me é muito com falar Março Trata-se apenas de uma pequena diferença de pôr o cinco no lugar do três, que também são muito parecidos (diriam que são iguais aqueles que tentam decifrar as minhas letras em que o “eme” pode ser um “ene”, um “dáblio” ou até reticências dependendo do caso,ou melhor, da minha mão preguiçosa).

Assim, fica pra mim sempre a sensação sem pé nem cabeça de que ainda estamos no começo do ano e que ainda há muito tempo para cumprir as promessas ainda não deixadas pra trás como as sete ondinhas puladas no ano novo, muito embora os confetes de carnaval (e talvez a ressaca também) já tenham passado há tempos.

Tal passagem não passou em branco desta vez. Resolvi então fazer um pequeno balanço, o qual compartilho com os que ainda não desistiram de ler este texto.

Nestes últimos cinco meses, muita coisa aconteceu para passar despercebido ou para considerar meros três meses trocados por cinco.Aprendi um pouco de culinária japonesa despretensiosamente (afinal, há de se ter criatividade no longo período de férias da faculdade) e acabei trabalhando por um tempo num sushi bar.

Resolvi também desentortar minhas pernas descompassadas e começar a fazer aulas de dança, das quais, embora já não sinta o meu quadril tão parecido com cimento ou não tenha pisado em nenhum pé alheio, ainda sofro um pouco.

Dei ainda continuidade a velhas metas e outras que também me acompanham, afinal, nem tudo na vida é revolução. Continuo praticando karatê e já consegui avançar bastante, e a faculdade vai bem, só eu que ando um pouco perdido nela.

Entretanto, algumas outras não são passíveis de serem ditas cumpridas ou não, já que demandam não só mais tempo para amadurecer, mas também vencer algumas centenas de quilômetros.

Contudo, a dificuldade destas não me faz desanimar, afinal, Maio já está acabando, mas os meses e anos ainda correm, comigo ou não, mas correm. Vou seguindo e lutando pelo que acredito. Ninguém disse que era fácil, certo?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Alvorada de outono

Gosto de dias ensolarados e frios, daqueles em que a foto do céu azul de poucas nuvens enganaria o observador não fossem os cachecóis e casacos pesados dos que se aventuram pedestres nestes dias preguiçosos. A explicação desta predileção? Não sei ao certo. Talvez não precise de mais, apenas gosto e isto basta (assim como dizia o heterônimo de Fernando Pessoa que certas coisas não têm explicação, tem existência. Tem coisas que bastam por si só!). Talvez seja o caso, mas essa discussão não cabe nestas poucas linhas. Volto ao que ia dizendo.

Não são bons esses dias de outono em que a vida parece ir mais calma e a até os desgostos parecem ficar menos agitados? Dias como esses não combinam com stress ou preocupações, combinam com um bocejo gostoso e com passear pela rua de casaco e algodão doce na mão. Ou quem sabe, com esta junção tão contraditória de clima frio e paisagem ensolarada, vestir um suéter e ir lá fora tomar um sorvete de palito ou vestir uma bermuda para buscar um chocolate bem quentinho?

Talvez sejam dilemas grandes demais para dias leves de outono como este que passam como um sussurro gostoso nos ouvidos. Hoje, se até as nuvens estão com preguiça de andar por ai, quem sou eu para contrariá-las? Vou mesmo é me enfiar nestas cobertas macias xadrez rezando para que ninguém me notar aqui. Curtir um pouco daquela preguiça genuína que nos parece pecado frente às obrigações cotidianas que vêm implícitas no alarme do relógio programado para disparar logo mais. Quem sabe eu não adormeça e acabe encontrando o meu chocolate quente sem ter que sair de casa ou mesmo da cama? (Acordem-me apenas quando as nuvens resolverem se espreguiçar, até logo)

sábado, 9 de abril de 2011

Procuro...

Procuro a liberdade,

Mas não dos seus doces beijos e abraços macios em que me torno senhor de mim mesmo nas suas águas

Procuro a liberdade,

Mas não aquela que Deus (será Deus mesmo?) me promete se for vigia da minha própria carne,

Desconfio dessas recompensas que nos pedem antes a submissão.

Procuro a liberdade,

que não me faça me preocupar com as credenciais do passado ou promessas do futuro,

Procuro a liberdade,

A qual não sei se perdi pois não sei se a tive ou se pelo menos passou em minhas mãos.

Aquela que passará como um instante, mas eternamente lembrada.

Procuro a liberdade em mim.

segunda-feira, 14 de março de 2011

A função de uma charge...

No Sábado passado, dia 12 de Março de 2011, o jornal Folha de S.Paulo publicou uma charge do desenhista João Montanaro, que é no meu entender desrespeitosa, sobre a catástrofe ocorrida no Japão, fazendo alusão a uma famosa xilogravura de 1830, “Tsunami em Kanagawa”, Katsushika Hokusai .
Resolvi então escrever ao jornal sobre a péssima impressão que a charge me deixara, acredito que em determinadas situações certas manifestações não são cabíveis, tal qual como ocorrera com a charge. A minha carta fora publicada na edição desta segunda, 14 de março de 2011, e segue abaixo. Gostaria de pedir a todos que, se puderem, dêem uma olhada no meu escrito. Obrigado =)!

=====================================================

"A página A2 do jornal Folha de São Paulo reserva espaço à opniões e críticas de jornalistas e outros membros ilustres da sociedade civil. Reserva espaço ainda, neste bloco de opniões, ao uso de charges como forma de expressão crítica retocada de humor de seus desenhistas.
Todavia, ao abrir o jornal deste sábado, 12 de março de 2011, nestá página, deparei-me com uma grande dúvida: qual o intuito daquela charge? Há intenção crítica?.
Qual a inteção do chargista João Montanaro ao retratar a catástrofe decorrente de um tsunami que arrasou o noroeste do Japão daquela maneira? Não se presta homenagem à tragédias, senão aos mortos decorrentes dela, nem se presta a realizar comicidade com fatos dessa natureza. A Guernica de Picasso retrata a tragédia da guerra, mas incute ao observador o horror que fora a Guerra Civil Espanhola, mas e a charge de João Montanaro?
Não me parece haver crítica, ou qualquer fundamento neste desenho para que mereça o espaço daquela página, carece de sentido. Caso seja a comicidade, penso ser importante rir da tragédia humana, mas rir inclusive daquelas em que não fora causadas por algum outro homem? Rir daquelas em que morrem centenas de inocentes? Que culpa temos no surgimento de um Tsunami?
Talvez se diga que é importante notas deste tipo para que o leitor saiba do ocorrido. Mas, acredito que notas sóbrias, notícias na página Mundo, ou faixas de luto são mais próprias para a ocasião. Momentos como esse não comportam essas charges.

Obrigado pela atenção,

Danilo Goto."