De meia idade, homem com barba
por fazer há anos. Pele morena do sol, da nascença e da sujeira das ruas. Tinha
as roupas gastas. Não eram próprias, mas doadas por outros, não como um presente, mas
como um alívio de quem se livra do que já não mais serve ou ocupa espaço no
armário. Sentia dentro de si uma falta, uma ausência: uma fome tênue que lhe
doía e ninguém percebia.
Era por volta do meio-dia. O
homem olhava fixamente para a vitrine de uma loja como se estivesse hipnotizado
pelo desejo de ter para si as mercadorias ali expostas. O desejo não era pelo pão
velho ou pelo prato frio, aliás, apreciados há pouco, dados pelo dono
do restaurante ao lado. Mas sim pelos clássicos ali enfileirados do John
Wayne, Greta Garbo e Charles Chaplin no velho sebo
da Rua Benjamin Constant, 48, Centro de São Paulo.