sábado, 1 de setembro de 2012

A fome invisível aos nossos olhos


De meia idade, homem com barba por fazer há anos. Pele morena do sol, da nascença e da sujeira das ruas. Tinha as roupas gastas. Não eram próprias, mas doadas por outros, não como um presente, mas como um alívio de quem se livra do que já não mais serve ou ocupa espaço no armário. Sentia dentro de si uma falta, uma ausência: uma fome tênue que lhe doía e ninguém percebia.

Era por volta do meio-dia. O homem olhava fixamente para a vitrine de uma loja como se estivesse hipnotizado pelo desejo de ter para si as mercadorias ali expostas. O desejo não era pelo pão velho ou pelo prato frio, aliás, apreciados há pouco, dados pelo dono do restaurante ao lado. Mas sim pelos clássicos ali enfileirados do John Wayne, Greta Garbo e Charles Chaplin no velho sebo da Rua Benjamin Constant, 48, Centro de São Paulo.

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