domingo, 24 de janeiro de 2010

Congruência


Não cavei a minha sepultura
Mas a pá golpeia minhas costas antes da terra.
Não cavei minha cova
Mas perdi aquilo que chamam de encanto como quem perde as chaves de casa.
E sem chaves como abrirei a porta?
E então como sairei de casa?
E depois como direi quem sou ao mundo?
Mas do que adianta bravejar às ruas
Se não há ouvidos,
Se não sei quem sou,
Se não há fechadura pra ser aberta?


Não, não sinta pena de mim.
Nem desprezo.
No mais,
A doce indiferença.
Melhor,
Não sinta nada.
Tu já tens uma casa ruída,
Própria e dela não paga IPTU nem aluguel (há de se estufar o peito e minimamente se orgulhar então) ,
Mas sofre como se ainda não aprendera a andar de bicicleta,
Quem dera soubesse andar, engatinhar.


Também não quero o seu ombro, nem o seu carinho,
Pois a você,
Se te serve de consolo ao seu gracejante espírito solidário (se é que tem um),
Caro leitor,
Não sinto,
Nem sentirei a mínima compaixão por suas dores murchas e cotidianas.

Se foi Deus ou o acaso que te trouxe até minhas palavras,
Não fui porque abanei minhas linhas a torto e direito numa banca de jornal.
Se sorte ou azar,
Não sei.

Mas sei que ambos temos uma congruência
(E te abro então um sorriso meio tímido).
Somos: incertos, inconstantes, imperfeitos, in- “qualquer-coisa”
Não por opção,
Pura vocação.
Somos,
Acima de tudo,
Humanos.

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